Não houve fim do mundo. (Mais uma vez). Foram 366 dias de personalidade forte tal como sua conformação bissexta. Ano bom. Ano ruim. Ano misto. Saldo final neutro. Se bem que a última semana, por si só, foi de saldo negativo, muito negativo. Salvo pelas inúmeras semanas de saldo positivo. Eu prefiro lembrar das novas amizades que fiz, das que “larguei mão”. Das vezes, maioria, que fui eu mesmo, contra todos e contra ninguém. Descobri a nova sensibilidade. Não sonhei muito. Não dormi muito. Não estudei muito. Não fiz nada concreto. Mas o que fiz de efêmero me satisfez. Não houve fim do mundo. Mas houve fim de sistemas consolidados. Houve o fim da voz mais bonita do século XX. Houve o fim da banda teatral que capengava há uns três anos. Ufa! Nesse ano quase nada do que estava morrendo, resolveu prolongar-se. Meus limites foram encontrados várias vezes. De alegria, de tristeza. De raiva, de amor… De tudo. A poesia neoconcreta perdeu seu pai. O sertanejo universitário desapegou-se desse novo sistema e ganhou mães, melhor dizendo, uma mãe. E eu fiz novas amizades. Conheci pessoas novas. Novas pessoas. Desapeguei de outras. Cavei minhas próprias desilusões e afoguei-as em lágrimas nas suas próprias covas. Não ousei planejar nada para o próximo ano. Mudei (de casa). E quase voltei várias vezes. Como volto ao começo desta crônica, sabendo que não escrevi nada ou quase nada do que queria escrever. Mas deixo aqui um agradecimento choroso (de tristeza, de alegria) a esse ano estranho, estranho bom. E para encerrar: Nesse ano, cortaram minhas asas. Quem foi que disse que é preciso asas para voar?

Crônica de despedida