Caros leitores,

Ontem à noite, eu bebi uma cerveja Kaiser, latinha de 350 ml, aquela que tem seus inofensivamente 4,5% de álcool. Uma latinha, só uma latinha. Se eu declarasse que foram três, caberia a dúvida, mas não, foi só uma, mesmo. (O lote da cerveja é o L8706012). Enquanto isso, assistia o Canal Brasil que passava a película “Animal Político” (de 2015 ou de 2016) do diretor Tião. Sabe: acho muito legal assistir filmes nacionais e já tô meio cansado dessas comédias Leandro Hassúnicas que não são nada mais do que extensão da programação da Rede Globo. Quando percebi que o filme era diferente dos blockbusters do cinema brasileiro, dei-lhe a devida atenção. O filme começou com dois homens sem suas cabeças, num lugar sinistro… Depois, apareceu o título do filme e já mudou completamente o cenário que, com a narração de uma voz masculina, apresentava uma vaca em diversas atividades cotidianas de um ser humano, de acordo com a narração. “OMG! Esse filme é massa“, pensei e logo entendi que era um drama-comédia-cult. Fiquei mais tentando a assistir ao filme inteiro. (Porque, sendo bem sincero para com vocês: Eu abandono filmes/séries dos quais eu não gosto da abordagem inicial). Aí a vaca, que era homem, foi se revelando estar em uma crise existencial… Citando passagens de vários filósofos. “Oh!, man, que filmão!”, pensei. Pensei. Eu poderia pensar. Pensei: Será que essa vaca, homem, com crise existencial é uma alucinação? Será que minha cerveja veio avariada? Mas acho que nem pensei nisso naquele momento. Eu pensei a posteriordo que vi, quando quase que do nada, apareceu outro título na tela. Era A pequena caucasiana. Uma mulher, ilhada desde a infância, nua, sem companhias, que lia as normas da ABNT e quando não conseguia caçar, comia as jóias que como ela também sobreviveram ao naufrágio. E lia as normas da ABNT. E lia as normas da ABNT. E lia as normas da ABNT, Arial 12, espaçamento 1,5, margens… Eu queria desligar a televisão. Fui contando os segundos para criar coragem, levantar do sofá e desligar. Meu sono é precioso, meus caros. Porém, antes disso, voltou ao cenário da vaca. A vaca antes e depois se deparou com uma coisa meio 2001: A Space Odissey do Kubrick, sabem? Pois é. E ela locou vários livros para alimentar sua cabeça. Agora, sabem qual livro mudou sua vida? Pois é… Pois é… Um da capa preta e amarela, de título Normas da ABNT de sei lá o quê… Eu até já tinha levantado para desligar a televisão. Não sou obrigado a ver a adoração as Normas da ABNT, nem em forma de sátira, aliás, principalmente em forma de sátira. Já estava com o dedo no interruptor, quando o filme acabou. Aí, meus caros, preferi mandar um e-mail para FEMSA (empresa responsável pela marca Kaiser) perguntando se há avarias neste lote, do que assistir ao filme de novo, para saber se foi uma alucinação ou uma obra-prima do cinema, o que eu tinha presenciado nos últimos sessenta minutos.